Práticas ágeis são consistentes e replicáveis ao longo do tempo?

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27 November 2008

Que as práticas ágeis funcionam, são gostosas de trabalhar e melhoram de uma forma geral o ciclo de desenvolvimento de software nós já sabemos. No entanto, existe uma dúvida: aplicar essas práticas de forma crescente, continua e de maneira comercial é possível?

Pergunto isso, pois aqui no Brasil ainda não temos nenhum grande case (que eu conheça pelo menos) de empresas prestadora de serviços (as famosas consultorias) que tenham investido nesse modelo durante tempo o suficiente (aka bastante tempo) e tenham conseguido se consolidar mantendo dentro de toda a cadeia de consultores e projetos as mesmas práticas e cultura envolvidas na utilização de métodos ágeis.

O motivo para isso não ter acontecido, na minha opinião, é que agilidade é um hype recente e por conta disso as consultorias ainda não chegaram no momento de replicar esse conhecimento para muita gente e muito rápido. Esse conhecimento ainda está na cabeça de poucos e os projetos que estão sendo executados utilizando agilidade são coordenados por estes poucos.

Mesmo em empresas "de verdade" (costumo chamar assim empresas "não consultorias" onde TI é importante, mas não é o core business) ainda não tenho certeza se isso é possível. Sei que o pessoal da Globo.com obteve muito sucesso em disseminar as práticas em mais de dez equipes, mas isso aconteceu com bastante trabalho, muito coaching e depois de algum tempo. Não do dia para a noite. Não tinha como ser diferente. Nesse cenário (vou me dar a liberdade de falar uma possível bobagem) onde a equipe tem um tamanho fixo ou perto disso e a demanda é mais ou menos conhecida acredito que escalar agilidade e disseminar as práticas seja mais fácil. Mas e em um cenário onde essas informações não são conhecidas, como fazer?

Como vocês sabem, trabalho em uma consultoria de software e estamos procurando aplicar práticas ágeis no maior número de projetos que pudermos (e onde agilidade for a melhor estratégia). No entanto, estamos indo com responsabilidade, pois senão de ágil só vamos levar o nome e nada da cultura. Por conta disso, esse movimento ainda não está em seu ápice de maturidade e poucos projetos (em relação ao todo que a empresa executa) estão utilizando dessas práticas. Contudo, a demanda por essas práticas está aumentando de uma maneira gigantesca e em algum momento a cultura e as práticas vão se perder se nada for feito a respeito.

Em resumo, temos um cenário onde a demanda não é conhecida nem de perto, as pessoas que farão parte dos novos projetos também não são conhecidas (pelo menos a maioria) e o tamanho das equipes e requisitos não são sabidos. Ai volto para pergunta inicial: como escalar e ainda assim obter consistência com agilidade em um curto espaço de tempo? Tenho certeza que não existe resposta mágica para essa pergunta.

É por isso que estou iniciando uma pesquisa não focada em agilidade e nem em aspectos técnicos, mas sim em um assunto que eu pouco vi comentado nas minhas leituras: capacitação de equipes ágeis. Ok, ok, ok...vocês vão me dizer que tá cheio de gente por ai que ministra cursos de capacitação de equipes em Scrum, XP, etc. Só que quando falo de capacitação, não estou falando em dar um treinamento de dezesseis horas para uma equipe e deixar a bola rolar. Isso, apesar de fundamental, está longe de ser suficiente.

Para inciar o estudo, estou me apoiando na experiência adquirida pela Toyota com a utilização do método de Instrução de trabalho e que está disponível em diversas literaturas onde cada um dos operários da linha de produção é um instrutor em potencial. É desse tipo de capacitação que estou falando. Executar um processo detalhado e peculiar (como são as metodologias ágeis) com a mesma precisão e qualidade em todas as pontas. Independente de gestão, equipe e localidade. Compartilhar os mesmos principíos desde o estagiário até o último nível da gestão. Para atingir esse objetivo é necessário aplicar um esforço brutal em treinamento e capacitação para que, na eventualidade, seja possível formar uma nova equipe treinada e preparada rapidamente.

Portanto, se alguém tiver experiência ou conhecimento de referências sobre esse assunto peço encarecidamente que compartilhe comigo (e com todos os leitores do blog), pois tenho certeza que esse é um assunto que em breve vai dar bastante dor de cabeça para muita gente. A idéia não é ficar esperando sentado até que as práticas e o nome se deteriorem pelo mau uso, mas fazer algo a respeito.

Conforme eu for avançando vou compartilhar minhas descobertas e experiências com vocês. Me desejem boa sorte. :)


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